segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Mães enfeitiçadas (aviso: post "biolento")


Tenho para mim (imagino-me a dizer esta expressão sempre com a voz e o ar mais angelical do mundo) que a Natureza errou numa coisa: os seres humanos nunca deveriam nascer com o desenvolvimento cerebral igual ao de uma cenoura.

É uma crueldade imensa e que em nada contribui para convencer mulheres como eu a alguma vez embarcarem na fantasia da maternidade. E quanto mais os anos passam por mim, menos me conseguem ludibriar nisto.

Os miúdos deveriam nascer logo com uma idade mental igual, no mínimo, a um puto de 5 anos. Mínimo dos mínimos. E 5 anos daqueles bem aproveitados, com boa educação e esperteza. Mas em vez disso a Natureza resolveu ir pelo caminho mais difícil para todos: dá aos miúdos um cérebro vazio, por longooooosssss anos, mas durante a gravidez infecta as mães com o vírus do o-meu-filho-é-o-maiiiiiiiiii-lindo-do-mundo-e-eu-aguento-tudo-dele-até-ser-escrava-se-for-preciso-e-faço-as-outras-pessoas-levarem-com-ele-mesmo-que-ele-seja-um-sacana. 
O nome abrevido disto é feitiço: a mulher fica enfeitiçada pelo filho, como se fosse um Deus, e mais nada à volta existe.
Só se safam desta armadilha as mulheres que, não tendo filhos, observam este fenómeno nas amigas, primas e colegas que foram mães e concluem, rapidamente, que não estão para isso.

Conheço somente nem uma mão cheia de mulheres, do universo de várias que se tornaram mães, que de certeza já tinham anti-corpos para o feitiço e conseguiram manter uma atitude racional em relação aos filhos. São essas que, por exemplo, apesar de terem uma página no Facebook só lá colocam, de tempos a tempos, uma foto da criança, são essas que conseguem ter uma conversa comigo sobre todo e qualquer assunto sem que o tema seja o filho e as coisas que o filho já faz e a consistência do cocó e são essas que se lembram, todos os dias, que também têm outra pessoa a viver com elas além do filho e que convém prestar-lhe alguma atenção: o marido / namorado. (Teresinha, Mafa e Fatinha continuem assim e não se desgracem...)

Sobre essas poucas mulheres do mundo que conseguiram manter a sanidade mental após serem mães não vou falar mais, porque não tem piada falar sobre pessoas normais. Tem muito mais piada falar sobre as restantes, as enfeitiçadas, por isso aviso que vou abrir o livro aqui e não tenho problemas em receber reclamações.

Uma mãe enfeitiçada tem características físicas facilmente reconhecidas: são mulheres que não fizeram o mínimo esforço para recuperarem a silhueta depois da gravidez mas que reclamam muito sobre isso e deitam as culpas a tudo e todos, menos elas próprias e, claro está, muito menos no filho. A culpa é sempre do tempo que nunca chega para fazer exercício físico, da comida calórica que se obrigam a comer porque estão a amamentar e convencem-se que isso é que é bom - e depois de deixarem de amamentar a desculpa é que precisam de energia para o puto. 

O feitiço não deixa essas senhoras admitirem que não fazem exercício físico porque preferem estar sempre com o filho, num ritual de embevecimento e obcessão, e que não conseguem fazer uma alimentação saudável, altamente nutricional e bem mais benéfica para elas e para o puto porque se habituaram a cederem à gula durante a gravidez e agora não conseguem deixar. Mais difícil do que deixar o vício do tabaco é deixar o vício de assaltar o armário dos chocolates à noite.
O resultado físico é sempre o mesmo e passa por uma barriga igual à de uma gravidez de 5 meses - o marido / namorado perde uma mulher ao seu lado na cama mas, em contrapartida, passa a partilhar a cama com algo que se assemelha um saco de batatas.

Outra característica física típica é a completa ausência de maquilhagem naquelas que antes de serem mães perdiam vários minutos diários a maquilharem-se. Uma mãe enfeitiçada só tem olhos para o filho e como o miúdo ainda não liga nada a esses artifícios, para quê se arranjarem minimamente?
No lugar do cabelo passa a estar algo estranho, para o qual ainda ninguém arranjou nome, mas que está mais próximo de ser uma espécie de vassoura. 

Temos então barriga igual aos 5 meses de gravidez, cara esquálida e pálida com olheiras a fazerem lembrar a graxa que os militares põem na cara para se camuflarem, e uma vassoura na cabeça: numa só palavra, uma mulher enfeitiçada pelo filho transforma-se num espantalho. Os espantalhos servem para espantar os corvos no campo mas, no seio de uma família, o único corvo a ser espantado é o marido / namorado lá em casa.


E quanto às características psicológicas de uma mãe enfeitiçada? Essas são tão fáceis de identificar quanto as físicas. Estas mulheres não conseguem pensar em mais nada a não ser no filho. Sabe-se isto indirectamente, através do discurso que estas mães apresentam: como só sabem falar do filho facilmente se percebe que só falam do filho porque também essa é a única coisa em que pensam.
Estas mães são capazes de passar horas inteiras a despejar nos outros tudo sobre o que o que o filho faz, das horas a que dorme, das horas a que acorda, do xixi e do cocó, das vezes que sorri, das vezes que chora, das coisas que faz que já são muiiiiiiiiito à frente para a sua idade ("ai ele é tão desenvolvidooooo!!"), das coisas que come, das coisas que não come, das doenças que teve, das que ainda não teve, dos colegas do berçário / infantário, das educadoras de infância, dos pediatras que conhece, das clínicas / hospitais onde já foi com ele.

Mais grave ainda, é capaz de despejar tudo isto num monólogo de horas em cima de uma pessoa quando essa pessoa só perguntou, muito inocentemente e exclusivamente por cortesia (porque na realidade se está a marimbar para a resposta) se a criança gosta de determinada coisa.
Ora a vida social de um espantalho obcecado por uma criança resume-se também a uma única coisa: a ida às festas de aniversário dos amiguinhos do filho. Mais nada. Mesmo, mais nada. 

O cérebro destas mulheres sofreu um hard reset e elas não se lembram mais que existem outros eventos sociais na vida como jantar fora com os seus próprios amigos ou marido / namorado, ir ao cinema, ir ao teatro, ir a um concerto, ir a um simples café.

Da mesma forma, a última vez que estes espantalhos se sentaram confortavelmente num sofá para apreciar o último livro best seller foi quando ainda sabiam ler literatura para adultos. 
O feitiço tornou-as analfabetas funcionais e, por isso, só conseguem ler coisas muito básicas e simples como os livros infantis do tipo "Tartaruguinha" ou "Caracolinhos Dourados e os Três Ursos". Nem é preciso referir que o mesmo se passa nos filmes que se vêem em casa pois desde que se tornaram espantalhos, os únicos DVDs autorizados e homologados por elas são os infantis e idem idem quanto à música: a playlist do carro é o CD das "Histórias da Xana Toc Toc na Quinta".

A minha veia de vidente permite-se saber como vai ser a vida destas senhoras daqui a 25 anos e não tenho boas notícias. 

Daqui a 25 anos, quando o filho sair de casa para ir para a Casa dos Segredos (na sua trigésima edição e onde a Teresa Guilherme já foi substituída pela Luciana Abreu), estas senhoras vão olhar-se ao espelho e ver que a vassoura na cabeça foi substituída por um grande par de cornos que cresceu desmesuradamente ao longo dos anos. E para perceberem de onde esses cornos vieram, vão olhar para o lado e vão lembrar que foram deixadas sózinhas em casa com um perfeito estranho que foi quem lhes deu essa bela parelha (se ele ainda estiver vivo e não lhe tiver dado o chuto no cú entretanto): o pai da criança. Da criança que já não é mais criança e que saiu de casa para ser famoso.
Como dizia a outra "Que biolência"...

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