
O tripeiro, quando ainda é tripeirinho, cedo é introduzido a duas religiões: a Católica e a Tripeira.
Cedo aprende que o local de culto de uma é a igreja do bairro e o local de culto da outra é o Estádio do Dragoum. Na igreja o tripeirinho habitua-se a ver a imagem de Cristo pregado na cruz, no Dragoum habitua-se a ver o Macaco a pregar porrada a eito quando o Porto perde.
Na catequese ensinam ao tripeirinho a Santíssima Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Nos jogos do FCP ensinam-lhe a Santíssima Tripandade: o F*da-se, o C*ralho e a P*ta que Pariu. Nesta ordem exacta e dito muito depressa, estilo rajada de metralhadora - pumba, já fostes.
O tripeiro não usa pausas quando fala, para isso existe o f*da-se. E serve também para substituir as vírgulas quando escreve. No entanto, quando o tripeiro se encontra num ambiente mais formal, usa a versão púdica - o fosga-se.
Chamar o melhor amigo de meu c*ralho não é ofensa, é carinho. Mas chamar alguém de filho da p*ta é certo que vai resultar em queixos partidos.
Aliás, o tripeiro em combate tem os seus próprios golpes, com os
seus próprios nomes: ele não te dá um pontapé, ele manda-te um biqueiro
que até ficas paneleiro dos olhos. Ele não te dá um estalo, ele
afinfa-te uma lamparina que te apagas.
Por falar em paneleiro, para o tripeiro os peidos não vêm do cú mas sim
da peida. E quando vais a casa dele, ele manda-te assentar a peida no
sofá e amanda-te com uma manta para ficares bem alapado.
O tripeiro não se acalma, o tripeiro axantra.
O tripeiro não dá opiniões, o tripeiro manda bitaites. Bitaitar é um verbo tão válido quanto opinar. Aliás, no Porto, é uma actividade elevada à categoria de desporto, com tanta actividade física quanto o golfe.
O tripeiro não mente, ele bate o coro.
O tripeiro nunca acha que está frio, mas acha que está um briol.
O tripeiro não vai embora, dá de frosques. Ou, mais tripeiramente, põe-se no c*ralho.
O tripeiro não te pede para ires ao pé dele, ele pede-te para ires à beira dele.
Num dia de chuva (fenómeno raro no Porto), o tripeiro não te oferece um guarda-chuva, ele oferece-te um chusso.
O tripeiro não te oferece uma imperial, oferece-te um fino. Se quiseres só um cafézinho, o pior que podes fazer à tua reputação é entrar num café e pedir uma bica ou um garoto - olham para ti como se fosses o Carlos Cruz. Café é café, garoto é pingo.
Quando o tripeiro te quer perguntar alguma coisa ele nunca te apela ao sentido de visão mas sim à audição. Por isso o tripeiro nunca diz Olha lá... mas sempre Oube lá.... .E fica à espera de ouvir como resposta Eu oubo.
Para o tripeiro, xunga não é uma pessoa com mau aspecto mas sim uma coisa má. Uma pessoa com aspecto xunga tem um nome: é um guna. Já uma pessoa com ar de totó é um tone.
A maioria dos tripeiros têm número começado por 91 e não são da Vodafone mas sim da Bódafone.
Depois desta breve introdução ao tripeiro, quem não o conhecia até fica a pensar que o tripeiro é um gajo bué engraçado. Está errado, o tripeiro é um gajo tótil engraçado. É importante perceber que a diferença entre usar o bué ou o tótil no Porto é a mesma que entre ser namorado do Renato Seabra ou do Goucha: no primeiro acabas morto a saca-rolhas, no segundo és levado para ir comer uma francesinha.
Se fores de Lisboa vais ter sempre que te habituar a ser chamado de mouro e mesmo que sejas o melhor amigo do tripeiro há alturas em que ele não vai resistir a espetar-te a farpa bairrista. Por isso não te espantes se um dia ele se virar para ti e te perguntar Oube lá, sabias que os computadôeres do Puôrto soum mais inteligentes que os de Lisboua? É que eles têm mais um byte. É o byte foder.
Update: este texto foi ressuscitado em vídeo aqui , no canal The Reddish Owl, e com partes novas ;)
Update: este texto foi ressuscitado em vídeo aqui , no canal The Reddish Owl, e com partes novas ;)
Se gostaste deste texto faz like na página de BeritrueIndeed no Facebook para seguires o blog.
Sem comentários:
Enviar um comentário