
O belo do sapatinho de salto alto faz milagres à imagem de uma gaja mas quando está nos pés de uma mulher descontraída a passear numa típica Calçada Portuguesa, há forte probabilidade de passar a ser um instrumento de tortura medieval pior do que o empalamento. Isto porque nós, mulheres, podemos acabar o dia com o salto alto enfiado no cú após um esbardalhanço no meio da rua ao tentar caminhar em cima de uma Calçada Portuguesa com saltos altos.
Quem inventou a Calçada Portuguesa era gajo, de certezinha. Nenhuma mulher, no seu perfeito juízo, se lembraria de fazer vias pedonais inteiras com uma pedra que, num dia de sol, oferece tanta tração quanto a Vaselina Pura da Vasenol e que, num dia de chuva, nos habilita a um tombo no chão com a mesma pojança que um patinador de gelo ao falhar a aterragem de um triplo salto.
Tentar manter a nossa dignidade e elegância ao caminhar em cima de uma Calçada Portuguesa com saltos altos é tão inútil quanto tentar manter a nossa dignidade e elegância enquanto cagamos de porta aberta com alguém a assistir. Ambas são acções que, depois de iniciadas, sabemos estarem fora do nosso controlo: um movimento mais precipitado na Calçada Portuguesa atira-nos numa queda épica, um movimento de intestinos mais abrupto e soltamos um peido mais ruidoso que a largada do space shuttle no Cabo Canaveral.
Muitas de nós, já experientes nestas andanças, quando nos deparamos com uma Calçada Portuguesa pela frente, optamos por não a pisar e andamos em cima do alcatrão da rua, a não ser que a rua seja de....(runfo)....paralelepípedos. Só a palavra pa-ra-le-le-pí-pe-dos nos faz ter uma câimbra na língua e cuspirmo-nos todas.
Só existe uma coisa pior do que enfrentarmos uma Calçada Portuguesa de saltos altos: é enfrentarmos uma rua Escangalha-Gajas de saltos altos - que é uma rua com paralelepípedos ao meio para os carros e com Calçada Portuguesa nos lados para os peões. Quando nos deparamos com uma rua Escangalha-Gajas e temos calçados os nossos saltos altos já sabemos que vamos acabar no chão e só temos que escolher se preferimos o mortal à retaguarda proporcionado pela Calçada Portuguesa ou o empranchamento de focinheira oferecido pela rua em paralelepípedos quando um salto alto se prende no meio dos paralelepípedos.
Ainda bem que eu só tenho que escrever este texto porque eu já escrevi tantas vezes a palavra "paralelipípedos" que se eu tivesse que o ler em voz alta, por esta altura já teria o monitor coberto de cuspe.
A conclusão então é que as ruas de Lisboa são projectadas por homens maquiavélicos, sádicos e sem sentido de moda nenhum, que devem ocupar uma ala da C.M. Lisboa com cheiro a mofo e vómito velho e que pretendem assim desencorajar o uso de sapatos de salto alto a favor do look caga-tacos de sabrina.
Sim, eu sei, é uma teoria muito rebuscada e o edificio da C. M. Lisboa até é muito bonito e deve cheirar muito bem. Só não aconselho irem lá de saltos altos porque a C. M. Lisboa está numa zona Mega Escangalha-Gajas, como se pode ver.
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