terça-feira, 18 de abril de 2006

O Broeiro a.k.a. As Minhas Aventuras na Selva Portuguesa (Parte II)

Já lá vão alguns meses desde que teci algumas considerações sobre essa figura tão portuguesa denominada broeiro. (In)felizmente pude, recentemente, desenvolver as minhas teorias e consolidar as minhas experiências nesta área terrivelmente complexa e anuncio que, de momento, estou preparada para as publicar neste blog tão científico quanto o Discovery Channel (os outros canais que me desculpem, mas este foi o primeiro a vir-me à cabeça).

Ora então comecemos.

O broeiro tem hábitos já sobejamente conhecidos pela população em geral, mas tem também alguns outros que escapam aos olhos dos mais distraídos, ou então dos que não são estúpidos ao ponto de perderem tempo com isto.

De qualquer forma, agora está a apetecer-me ser um bocadinho estúpida (é um estado mental como qualquer outro…)

1º hábito: o broeiro faz questão em ser ele a projectar a sua própria casa, em vez de entregar essa tarefa a um arquitecto (não é por falta de dinheiro, uma vez que estou a falar do broeiro com dinheiro). Chegar a esta conclusão é muito fácil, basta dar um passeio pela casa de um broeiro e reparar que há verdadeiros aberrações arquitectónicas: a entrada na casa é feita pela cozinha (sobre esta divisão falaremos mais adiante); normalmente sobem-se trinta mil degraus até chegar a esta entrada que é, invariavelmente, no 1º andar da casa; há aspectos curiosos na casa-de-banho, tais como as barras secadoras de toalhas distarem uns 50 metros da banheira, o que obriga uma pessoa a patinhar o W.C. inteiro se quiser ir buscar a sua toalha seca e quentinha depois do duche.
Eu gostava de dar mais algumas sugestões: o bidé deve estar a, pelo menos, 5 metros de distância da sanita; o fogão da cozinha deve estar mesmo ao lado da banca da loiça (assim não há espaço para pousar tachos nem pratos de suporte para quem está a cozinhar); quando existem escadas, estas devem ser muito íngremes e sem corrimão; as maçanetas das portas devem estar ao nível dos olhos; garagem é algo que não é preciso nunca, mesmo que se tenha 4 carros (a rua é sempre um excelente sítio para estacionar, com a vantagem da chuva lavar o carro).


2º hábito: a mulher do broeiro veste sempre, invariavelmente, uma bata aos quadradinhos pretos e cinzentos sempre que se encontra em casa. Esta bata é usada de manhã à noite. Um simples avental, que se veste somente quando se cozinha, é uma peça rara e desconhecida.

3º hábito: o broeiro recebe sempre os seus convidados na cozinha (cá está a questão da cozinha) mesmo que tenha uma sala de estar e/ou de jantar. Este fenómeno é algo que ainda ninguém me conseguiu explicar. Ora...há uma sala de estar ou uma sala de jantar e há uma mesa de jantar na casa do broeiro, logo...porque é que insiste em receber os convidados na cozinha e pô-los a comer na cozinha? Devido a isto, sai-se sempre com um cheirinho de comida na roupa e nos cabelos quando se abandona a casa do broeiro. Na minha opinião, isto está relacionado com o problema de não haver arquitecto: o broeiro mandou fazer a casa à semelhança das outras casas que já visitou, mas desconhece a utilidade de uma sala de estar/jantar.

4º hábito: o broeiro também faz da cozinha a sua própria sala (ainda a questão da cozinha) mesmo tendo sala de estar. Tudo se faz na cozinha, mas mesmo tudo, quer estejam presentes convidados ou não. O broeiro, enquanto está em casa, passa 98% do tempo na cozinha, 0,5% do tempo a contar azulejos na casa-de-banho e 1,5% do tempo no quarto (só a dormir, porque para o resto a cozinha também serve).

5º hábito: o broeiro usa a gravata até meio da barriga. Nunca ninguém lhe disse que a gravata deve cobrir todos os botões da camisa. Mas o problema da gravata não acaba aqui porque além da gravata ficar a meio da barriga, ela também costuma ser de um gosto absolutamente inenarrável.

6ª hábito (o mais famoso de todos, a estrela da companhia): o broeiro usa meia branca com tudo. Tanto já se falou sobre meia branca que vou abster-me de tecer mais comentários.

7º hábito: a mulher do broeiro usa camisas com rendas e chumaços nos ombros. Ainda ninguém lhe disse que os anos 80 já acabaram e que o Parlamento está a considerar aprovar uma lei onde todas as mulheres que se vestem assim são condenadas a um ano inteiro de aulas de etiqueta e bom gosto com a Paula Bobone e o José Castelo Branco.

Desgraça.
E aqui fica mais um "As Minhas Aventuras na Selva Portuguesa". Reparei agora que corro um sério risco que isto se torne uma trilogia. Mas para isso é preciso viver um terceiro capítulo...oh não!

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