Foi noticiado hoje pelo CEO da Ryanair que esta companhia
aérea planeia lançar vôos para os Estados Unidos a partir de 10€.
Já viajei, dentro da Europa, pela Ryanair e ao ler esta
notícia juro que ouvi uma voz, daquelas bem estridentes, dentro da minha cabeça
e que disse “MEDO!”.
Já não bastavam as sessões de tortura de 3 horitas, dentro
da Europa, que a Ryanair vende e às quais chama, eufemisticamente, de “vôos”. Sabe-se
agora que o grande trunfo poderão ser as torturas transantlânticas, daquelas
que incluem grandes sovas, a preço de uma simples palmadinha no rabo. Ryanair
sempre a inovar.
Que tipo de tortura se pode esperar nestes vôos? Só consigo especular, obviamente, mas baseando-me no que se passa nos vôos europeus, acho
que não estarei muito enganada ao imaginar o cardápio que se segue.
Começa logo com a sessão do “Sai da frente ó car**ho”, no
momento do embarque. A Ryanair não tem lugares marcados no avião e isso causa
logo um certo comportamento obsessivo nos passageiros que querem embarcar. Já
se sabe que mesmo em vôos com lugares marcados, as pessoas têm a estranha mania
de fazer fila para o embarque meia hora antes da porta de embarque sequer
abrir. Num vôo da Ryanair as pessoas começam a amontoar-se à porta quase de
véspera, como se fosse um concerto do Justin Bieber. O objectivo é conseguirem
os melhores lugares e, nisto, vale tudo.
Logo de seguida, com os passageiros já sentados, fica óbvio
que a Ryanair faz questão de oferecer a todos um já clássico da tortura: a
imobilização. Qualquer ser humano, incluindo aqueles com 1 metro de altura,
senta-se num banco de um avião da Ryanair e fica, ga-ran-ti-da-men-te, com os
joelhos colados ao banco da frente. Ao fim de 15 minutos isto é desagradável.
Ao fim de 3 horas já nem se sente as pernas. Imagino que ao fim de 8 horas seja
necessário recorrer à amputação.
É por esta altura que uma pessoa pensa “vou dormir,
assim nem dou pelo tempo passar”. Tsk tsk, quanta ingenuidade. A Ryanair aqui
também presenteia todos com um super-clássico da tortura: a tortura do sono. A
tripulação certifica-se que toda a gente vai de pestana bem aberta durante o
vôo e, para tal, usa e abusa do sistema de som do avião. Esse sistema, que em
qualquer outra companhia é usado para anunciar os procedimentos de segurança
aos passageiros e para o comandante dar um ar de sua graça, tem uma utilidade
diferente na Ryanair. Na Ryanair, o sistema de som é o Gigashopping dos ares.
Garantidamente, a cada 10/15 minutos, vai haver um tripulante que se vai agarrar
ao microfone do avião e iniciar uma inacreditável verborreia de venda de tudo o
que possa haver dentro daquele avião e, assim, garantir que todos estão bem
acordados.
Calma, há mais. Os 10 €uros vão dar para mais. Nos
intervalos das sessões de verborreia vai haver sempre, com toda a certeza, um
passageiro ao lado, à frente, ou atrás, que vai querer levantar-se do lugar (porque
cede à tortura da imobilização) e será impossivel essa pessoa não se apoiar na
nossa cadeira ou não empurrá-la para conseguir sair. Isto aniquila qualquer
tentativa para dormitar nos intervalos do Gigashopping e aumenta, fortemente,
os níveis de irritabilidade dentro do avião. Perdão, dentro do avião não
porque, a esta altura, aquilo que começou por ser um avião está transformado
numa fábrica de psicopatas voadora e, com um bocadinho de sorte, com direito à
música do “Twilight Zone” durante o desembarque.
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