Estava eu no Continente, na semana passada, já com as minhas compras no tapete quando me chega ao ouvido a voz de uma mulher, muito irritada, que estava na caixa ao lado. O problema da senhora era gravíssimo e entende-se a irritação: a senhora tinha trazido a farinha errada da prateleira, só se apercebeu disso quando já estava na caixa para pagar e a culpa era da funcionária da caixa, como é lógico. Sim, na mente daquela mulher com tiques de calhau analfabeto, o facto de ela ter retirado da prateleira a farinha que não queria era um enormíssimo problema e a culpa era da funcionária da caixa.
Imagino que a funcionária da caixa devia ser alguém com poderes paranormais e que, nos momentos de pausa do trabalho, consegue que o seu espírito ande a assombrar o corredor das farinhas para fazer com que as pessoas se enganem na farinha que escolhem. Felizmente nunca se lembrou de andar a assombrar outros corredores e fazer com que as pessoas tragam luvas de latex a pensar que são preservativos senão aí as consequências seriam ainda piores.
O grande problema resolveu-se com o calhau a ir a rebolar pelo Continente para ir buscar a tal farinha que queria mas, mesmo assim, depois de rebolar de volta até à caixa e enquanto pagava, continuou a expressar a sua irritação com a funcionária. Atrevi-me a imaginar como é que aquela mulher deve reagir noutras situações, potencialmente piores. O que é que acontecerá se aquela mulher se encontrar na casa de banho a arrear o verdadeiro calhau e, no final, perceber que não tem papel higiénico? É caso para dizer que vai dar merda e da grande, literalmente. Uma pessoa daquelas de certeza que vai desatar ao murro ao próprio cú, a castigá-lo por ter tido vontade de ir à casa-de-banho quando não havia papel higiénico lá.
Esta mulher é o exemplo perfeito das pessoas com mentes pequenas para quem tudo é um grande problema. É facil reconhecer pessoas destas: são aquelas que desatam à cacetada ao volante do carro quando este fica sem gasolina depois da luz da reserva ter acendido há mais de 3 dias, são as que espetam com o telemóvel contra a parede porque este ficou sem bateria e são aquelas que se espumam de raiva durante longas horas, com direito a sessão de auto-chicoteamento e um post a destilar fúria assassina no Facebook, porque a Fox resolveu mudar o horário em que passa a sua série de televisão preferida.
Por falar em posts a destilar fúrias assassinas no Facebook, lembro-me de um publicado por mim, exactamente no dia de Natal, dirigido ao gajo que resolveu assaltar o carro do meu marido nessa mesma noite. Foi um problema realmente chato e agora que faz quase um ano desde esse acontecimento, gostaria de fazer como o Elton John e renovar os meus sinceros votos natalícios a esse cabrão: que amanhã na consoada comas algo que te
provoque uma diarreia de tal forma épica que nem o cú te seja suficiente
para te aliviares e dês por ti a ter merda a sair-te por todos os
orifícios do corpo, inclusivé pelos olhos. Feliz Natal!
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