segunda-feira, 28 de maio de 2007

As Minhas Aventuras na Selva Portuguesa (Parte III)

Depois de "As Minhas Aventuras na Selva Portuguesa" e "As Minhas Aventuras na Selva Portuguesa (Parte II)", eis que chega o texto que fecha a trilogia. É verdade, fui obrigada a mais uma perigosa incursão pelos meandros da sociedade broeira portuguesa, por intermédio (claro está) de um casamento. Raio de sina esta que me obriga a fazer figura de corpo presente nestes eventos, logo eu que achava que nada vindo dessa espécie, por mim baptizada de homo broeirus, conseguisse surpreender-me. Contudo, estava bem enganada e este texto serve, precisamente, para actualizar o meu estudo científico dessa espécie, expondo novos comportamentos observados.
O homo broeirus conseguiu inovar neste casamento e começou logo pela cerimónia religiosa na igreja. Na altura em que o pároco diz “Saudai-vos na paz de Cristo” não foi novidade quando todos os presentes cumprimentaram aqueles que estavam ao seu lado. A grande novidade ocorreu quando, logo após esses dez segundos de “cumprimentos e beijinhos”, todos se ergueram do seu lugar e formaram uma fila desde o altar até à porta da igreja. Eu, na minha santa inocência, pensei que tinham ido comungar mas ao fim de alguns segundos, logo após estranhos sons de “beijinhos” terem chegado aos meus ouvidos, percebi que todos tinham efectuado essa deslocação até ao altar para também irem “saudar na paz de Cristo” os noivos e os familiares que lá se encontravam. Pior ainda foi quando me apercebi que também eu teria que participar neste fenómeno quando dei por mim a ser a única pessoa sentada na igreja, quando todos os outros aguardavam pacientemente pela sua vez, na fila de 10 km de comprimento.

Ora, eu pensei que com tanta “paz de Cristo”, os noivos e os seus familiares se encontrassem em estado (obviamente) de paz mas, em vez disso, quando chegou a minha vez, deparei-me com todas essas pessoas a chorarem desalmadamente (inclusive a menina das alianças), o que tornou aquele cenário todo ainda mais sinistro. Afinal aquilo era um casamento ou um funeral? Esta dúvida assolou-me por uns segundos, mas rapidamente lembrei-me que as lágrimas estavam, com toda a certeza, a serem derramadas por algo muito pior: pelo verdadeiro assassinato do bom-gosto que ali estava a ser cometido.

Quando, finalmente, retornei ao meu lugar, não passaram nem 30 segundos até todos voltarem a levantar-se do seu lugar e a formar uma nova fila, desta vez para comungar. Ou seja, o casamento ainda não tinha chegado ao “copo d’água” e já tinham existido dois momentos com formação de filas. Ainda haveria um terceiro momento, mais tarde, relativo à famosa fila das fotografias.
Temos, assim, mais um comportamento típico do homo broeirus, que é a apetência para filas. Esta espécie gosta de andar em filas, quer seja num casamento, quer seja aos domingos para chegarem aos centros comerciais. Fica a suspeita: qual a causa para esta adoração por filas? Será que a espécie gosta de “pegar de empurrão”?

A fêmea do homo broeirus (também por mim baptizada de muliere cilindrus, parecidas com texugos de cabelo curto que, vistas de costas, parecem um cilindro) é também caracterizada por sofrer de algum tipo de problema de ortopedia, uma vez que nada mais consegue explicar a sua absoluta incapacidade para conseguir manter calçados, durante um dia, um par de sapatos. É comum esta espécie trazer, nos seus automóveis, os seus chinelos com o objectivo de os calçar logo após a chegada ao local do “copo d’água”.
Os machos, por sua vez, possuem um problema localizado ao nível do pescoço, pois é-lhes impossível usarem o botão do colarinho da camisa apertado, quando vestem fato e gravata. Outros devem ter todos os problemas, e mais alguns, já espalhados pelo corpo todo, uma vez que não suportam, simplesmente, usar fato.

Para finalizar, algo que aprecio particularmente observar nestes eventos sociais é o bailarico após a refeição. É vê-los a dançar aos pares, homem com homem, mulher com mulher, velha com velha (de chinelos).

Fica assim concluída a trilogia “As Minhas Aventuras na Selva Portuguesa”. Estou esperançosa que não seja necessário transformar isto numa série de quatro ou mais “episódios”, porque confesso que a minha capacidade de investigação desta espécie começa a roçar os limites, além de estar esperançada que já nada vindo desta espécie consiga surpreender-me e, consequentemente, obrigar-me a registar oficialmente neste local.

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